sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Sabor a Café

Chamem-lhe mania, capricho, teimosia, o que quiserem. Sou de ideias fixas, nem sempre é bom, reconheço. Ao entrar no café, neste ou em qualquer outro, previamente tento ter uma visão geral do conjunto, como o jogador de xadrez que estuda e analisa o lance antes de mover a peça para não ser surpreendido pelo adversário. Há quem lhe chame estratégia, outros, simplesmente um mal, uma lesão, que afecta sobretudo os precoces reformados.

E foi precisamente esta, a mesa onde me encontro, a escolhida. Daqui posso visualizar não só toda a sala, quem entra ou sai, mas também o movimento na rua. Estou como peixinho dentro de água, ou melhor, como ave de rapina a planar lá nas alturas. A verdade é que me sinto a ser levado, arrastado, para longe por fortes correntes, de água, ar, pensamento.

O olhar vivo e interrogativo do casal ao meu lado quando entrei, homens alegres numa discussão animada sobre o desempenho da equipa de futebol ontem à noite, noutra mesa mais distante um grupo de velhos que ri animadamente iludindo mazelas e anos, em frente o balcão com os clientes mais apressados, a empregada com seu sorriso que a todos dá e alegra, os estudantes despreocupados alheados dos livros e das horas, a vistosa e envaidecida que se mira no vidro e nos olha para comprovar seus dotes, as pessoas lá fora que passam rápidas como a vida.

Fosse eu um artista faria um quadro a que chamaria simplesmente, sem mais nem menos, Sabor a Café. O açúcar, esse, fica ao vosso gosto.

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